quinta-feira, 18 de agosto de 2022



22:51


(duas casas)


ecoam contos de Capote nesta casa vazia 

queria dar-te a mão mas somos iguais

(fazemo-nos sós sem querer,

devoramos bibliotecas

e o alimento é outro, 

sabemos)


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( viagens)


ante a abundância que fere 

eu quero abarcar

por amar tanto é que dói 

por não poder ver imagino dentro 

- o mundo inteiro



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                                                    TAPETUM LUCIDUM 


18-08-2022 (Nils Fhram - Old Friends)



(kierkegaard e a perda não notada) 


todo o passado se condiciona, os jardins de deus estão fora. vejo as prisões de que me socorro, mais não são que sonhos que fugiram, que deixei extinguir. porque o medo da morte não superava o da vida. por dentro há mundos inteiros à espera de eclodir, e ela tem saudade das figuras sem futuro, dessas viagens de infância mesmo antes do entardecer. no comboio, no metro, na ponte, ao pôr do sol, as cartas escritas, os poemas, a música.


(The real charlie chaplin)


queria ver uma manhã no mundo inteiro. o destino alvorado, as setas lançadas para um vácuo infinito com as mãos dadas. o coração dentro do peito. 

dizem que mentimos todos os dias. e se me caíssem as pétalas estaria nua? não sei se amo ou tenho medo de paredes silenciosas porque às vezes ouço uma espécie de silêncio entre nós- não nos chegamos? ou quero ver a imagem no espelho, sou o narciso do lago. os reflexos que almejo são o ícone, o ídolo. como Chaplin? colamos na casa a imagem sem saber do humano por detrás. não queremos a lacuna, a dúvida, a mácula, a doença. queremos o circulo perfeito, o vaso sem ranhuras, queremos beber e não mais ter sede, queremos o céu todas as manhãs sem a gravidade.  queremos a cena perfeita. não queremos a verdade (?)


(Epoché)

as nossas referências são passadas e de outro tempo antes do ser (fabricadas pela sede)? sinto que lá atrás é mais alto, mais vívido. Tempo, agora apressas-te para que lugar? sinto escoar, a conta gotas, o meu tempo. há cães revoltado nos sonhos, cefaleias do lado direito e náuseas sem origem.  não leio a mensagem. a loucura psicossomática, o medo? - ver os fios que a ligam à terra - são humanos do seu sangue, irmãos espalhados pelo país e um ser de quatro patas que redime. se fechar os olhos ela vê - quanto ao supermercado e ao abrigo - o custo é tão alto. 

essa liberdade,  saudade - esse fogo aceso numa primitiva noite. sem amanhã, irmãos.


  [Serás humano até ao fim] caminhas tocando as paredes numa divisão obscura os caminhos múltiplos, as escolhas pressionadas por um tempo de...