sexta-feira, 6 de setembro de 2019




Rascunhos ( Novembro (2018) - ? )  

*
almejava um choque
de rompante
um frio que arrombasse os ossos
e os acordasse
uma dor que fizesse mover
para onde não sei
mas que sentisse esse onde
para poder ficar
mesmo no seio da dor
acordada
para a frente
crescer
eu queria ser a mulher que beija a criança
e lhe diz que já passou
que assim é
que não há estertores
que não há demônios
vestidos em fatos escuros
queria saber
para onde ir
além do desconforto descortinar
o sentido
tenho sono
ou o sono sou eu
e no mundo tenho a idade
das flores
o mundo diz me que não sou pesada
e que posso correr o mundo
mas tenho sono antes da manhã
e estou acordada toda a noite
sem planos
mas eu digo obrigada amor por tudo o que vivi
como se a umbreira estivesse
ocultando se permanentemente
diante mim
eu digo obrigada como quem partiu
mas continuo aqui

a criança da rua
(na cabeça )
a menina num pijama quente beijada
antes de dormir
(na memória )
desamparo sem sustento, penso
desamparo celular , sinto
bombas relógio
cascatas lentas
'conta me o segredo '
(sussurro ao mundo )
e juntar me a todos e ser eu
e juntar me a todos sem excepção
sem separação
união profana mas salutar
contra a inércia de ser
pequena ainda
criança de rua
na cabeça

*
efervescência gritando
não me conheço ?
não aguento a rigidez
efervescência
Dionísio
comunhão, fusão, libertação
dança , música
grito, beijo, estalo, choro , mudo
baque , pulsar
coração , corpo , vida
não sei o que encerra o centro
além da energia que se apaga
nesta jaula
pássaro e leão
pássaro e leão
presos e quando libertos
não sabem a direção dos ventos
nem pressentem o calor das savanas

  [Serás humano até ao fim] caminhas tocando as paredes numa divisão obscura os caminhos múltiplos, as escolhas pressionadas por um tempo de...