Dormir. Dormir para
esquecer, para descansar cansaços que não podem ser convalescidos. Dormir, só para não estar cá, ir embora sem ir, por algumas horas. Dormir,
só para não ter de pensar, mas mesmo nos sonhos os meus problemas vivem. Adormeço
e acordo com as mesmas imagens, que me perseguem, obsessivas. Sonho-te sem te
querer sonhar. Almejo um esquecimento entorpecedor, uma ausência de
sentimentos; Quero esquecer sem esquecer, as memórias que tanto me mutilam como
me confortam, pois são pedaços de vida para recordar. Mas como divorciar os
sentimentos desses momentos distantes e ternos, para que possa ter réstias de
imagens sem que sinta todas as emoções, todo o enlevo passado associado?
Pudesse eu desligar-me dos sentimentos, ser máquina, apática mas feliz num
conforto seguro e sem surpresas. Afinal, as felicidades mais intensas são efémeras, não forjam memórias evanescentes, forjam memórias nítidas, perenes, insubmissas, que me assaltam impetuosas ou que me atraem como canto de sereia, desviando a minha atenção do presente. Perco-me dentro de mim, viajo, retrocedo e ali me fico, onde o tempo congelou cenas vívidas. Memórias que me ferem pois agora estou só e escrevo. Não sei o que fazer com o meu tempo que
passa tão lento e não me cura. Lembro-me de como ele costumava passar tão veloz nesses dias simples mas plenos. Durmo mas acordo inquieta, cansada. Atraso e acumulo demasiado. Pudesse eu ter
chorado tudo de uma só vez, talvez aí adormece-se docemente, no berço de um
sono sem sonhos.
MF
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