quarta-feira, 1 de outubro de 2014


~ 22 de Setembro

  Às vezes não estou cá.
  Estou em algum lugar paralelo e simultâneo. Sou só o corpo que ocupa um espaço. 
  Não estou cá - receptáculo pálido de uma alma outrora viva e inocente de si e do mundo. Apaga-se-me o fundo onde tudo é paranóia coletiva, gestos aprendidos, imitações baratas de sentidos e risos tão cheios de vazios e olhares tão cheios de promessas. Pobres crianças ou pobre de mim por ser cínica e descrente e cinzenta. Li demais, observei demais, pensei demais. Pensei demais.
  Não estou cá - O meu rosto parado, os meus olhos baços lagos profundos, a minha mente leve e viajante por caminhos sem nome, começo ou fim... e de repente, não quero fazer parte - quero estar à parte. Despejo-me em algo, sem substância.. Não interrompam a minha ausência, não quero retornar. Estou num nada qualquer, numa vaga inconsciência e indolência fria. Não me perguntem em que é que estou a pensar. Mal sei o que penso, mal sei quem sou; sou, talvez,  um paradoxo entre ânsias que se opõem. Não preciso de ninguém, preciso tanto de alguém. Odeio e amo a solidão. Meu deus. A solidão é uma benção tão pesada, tão misteriosa e tão sapiente, tão tenebrosa e tão plácida. Mas hoje não quero ruído de fundo, não quero companhia - quero isolar-me do mundo, separar-me de seres servis, de fantoches, de anedotas ambulantes, de egos inchados. 


Devagar. Devagar. Desligo a ânsia de querer sentir. 
Sou só e comigo vivo.

MF

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