8 de Outubro, carta nunca enviada
Foi como um filme, com um final abrupto. Fechado mas aberto em algum sentido, sentido desnorteado que tenciono encontrar - Porque ainda não me sinto eu, deambulo entorpecida almejando apenas e simplesmente o infinito desse tempo parado, desse tempo quebrado pelas atrocidades destas leis que nos regem, desta piada nefanda chamada tempo e acaso e amor e memórias. Aberto num qualquer sentido, talvez noutro tempo e noutro espaço, paralelo a este.
As músicas embeberam as memórias de poesia maior que qualquer arte, neste mundo tão cheio de razão e ciência e aço, e ainda bem. Fazem nascer lágrimas do fundo do poço mais seco. Eu vou chorar.
As músicas abrem feridas. Explodo por dentro, meu deus. Neste momento toca, e só ouço para escrever estas palavras. As mesmas palavras de sempre, que tentam criar uma imagem do caos interno e eterno.
Apunhalar-me enfim, sem saber porquê.
Somos milagres cansados, tive a minha quota parte de eternidade plena e desespero da ausência impossível de colmatar, do passado vivo em movimento, nestes dias desconexos de tudo. Éramos céus orgulhosos a ribombar aos sete ventos a eternidade, os campos verdes e as colheitas maduras. Desligados do chão que pisávamos. Ainda te lembras? - o meu coração pesava por sete dias sem te ver. E depois desses sete dias o nosso mundo não teve lugar neste. Nunca poderia ter.
Nunca escrevi tanto como nesses dias, e nestes dias. Podias ao menos não me destabilizar cá dentro, em ondulações e lufadas ritmadas de sofrimento. A nostalgia, a nostalgia - a pedra basal, fonte amarga de onde se vertem estas palavras. Eu vou chorar. Cada dor converge para ti. Tínhamos tanto para um amanhã.
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