domingo, 5 de outubro de 2014




tornei-me num silêncio e chagas várias
deambulo, quedo na penumbra
do meu próprio desconhecimento
não sei se alguma vez soube viver
e me esqueci,
eu sempre vítima, eu sempre algoz
não sei se alguma vez senti ser
o centro, flor predileta
enaltecida estrela, de um qualquer poeta

tornei-me num silêncio e chagas várias
outrora viva, outrora jovem e infinita
agora torpor, solo maculado e imolado
em nome de uma qualquer espera
perdi-me na loucura férrea
de querer tanto e não poder, não saber
desci a abismos sem nome
prendi-me, cruas paranóias e cinzas
de memórias e gestos desmaiados
sempre aquém, sempre a meio
envelheci, na esteira de um sentido,
na ânsia da pertença visceral
a outra alma gémea minha
caminho, sem chão, sem céu
coração centenário, inescrutável
à alma que alimenta e o procura
caminho, transeunte taciturna,
inocente criança, sempre.
silêncio e chagas várias, sempre.


MF

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