quinta-feira, 25 de dezembro de 2014




Choro ao ler Al berto porque as suas palavras são as minhas num mundo em que eu fosse dona da maior das eloquências:

"não sei para onde foste morrer 
eu continuo aqui… escrevo
alheio ao ódio e às variações do gosto e da simpatia
continuo a construir o relâmpago das palavras
que te farão regressar… ao anoitecer
há uma sensação de aves do outro lado das portas
os corpos caídos
a vida toda destinada à demolição

tento perder a memória

única tarefa que tem a ver com a eternidade
de resto… creio que nunca ali estivemos
e nada disto provavelmente se passou aqui"

Al Berto.

“O Esquecimento em Yucatán” (1982/83). O medo

  Ao ler isto inspirei-me e escrevi -





Choro, tremo, perco a voz, perco a razão, caio num lugar sem nome,
ermo interno com a violência dos mares sem a glória destes.
caio no lugar em que acontecemos e morremos
engolidos pelo vácuo que substituiu o mundo
caio nas memórias das palavras desentendidas e do azul mais que azul
anjo demónio dos meus cansaços,
que enalteço e renego
face desenhada nas noites de insónia
cansas-me a alma, paras-me as possibilidades de vida
baralhas-me a razão que se lançou na compreensão do teu mistério

Temo estar ainda apaixonada, como poderia eu não estar se te escrevo,
e se escrevi para ti mais que palavras.
sonhei, escrevi essências,
forjei provas da tua existência semi-lúcida
dissolvida em segundos fátuos, pequena grande tragédia,
ainda me lembro, ainda nos sofro -

houve uma quebra,
decerto vivemos em dimensões diversas no segundo de nós
intersectadas em cataclismos pontuais
e nunca nos conhecemos,

quase deixei cair a chamada, foi trabalho de heróis segurar a voz
serena, sem rasto de dor
estava longe, já estavas longe
e a distância não poderia ser de novo restabelecida aos milímetros
ansiosos entre os nossos rostos
despedi-me, com as dores guardadas e choradas num corredor
era jovem e pensava que para ti era amor


MF







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