É titânico ser humana.
É preciso ser deus para ser humano.
Estou presa entre mares que se colapsam, montanhas que se engolem - entre lógicas férreas, robóticas, e essências etéreas. A desviver por ser contradição humana estagnada, melancólica e feliz, parada entre o racionalismo cínico que se insinua tão confiante de si mesmo diante do coração, e as poesias inventadas que transcendem a razão e procuram superá-la, expandir-se além de cada limite delimitado por esta - até às estrelas, até aos lugares sem tempo, até mundos sintetizados por palavras e sonhos e amor puro, basal, magnânimo.
Afinal é isto ser humano: é escolher ser criança, escolher não ver e adornar o sujo com poesias. Fingir não ver, a despeito da sombra fúnebre que nos segue o rasto, revestida de uma subtil intuição amarga da covardia de escolher a ilusão. Queremos ver beleza na decadência, entrever transcendência na finitude imperfeita, formular sentidos que nos abracem e nos digam que tudo isto não é aleatório, piada nefanda, jogo caótico, artimanha modelada por um demónio tedioso da eternidade.
Fingir, enfim, que somos divinos - Ou não fossemos a raça onde nasceram os poetas.
MF
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