domingo, 8 de março de 2015


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Memorandos
02.03.2015
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1h48

Sal. Foram rios de tormentos vãos
e noites sem dormir;
idolatramos a tragédia e as histórias da poesia viva
mas renascemos dos solos podres em que nos deitamos

Cabemos nos espaços condensados entre os segundos,
na memória somos eternidades finitas sem corpo
não chores o pó da tua carne desfeita
somos a religião sem fundações terrenas e sem livros ou preceitos
basta-nos a poesia e o transe das sinfonias
onde sintetizamos certezas de eternidade e divinizamos a alma além matéria

As imagens flutuam dentro e fora de nós,
estamos aqui e no ontem.
acho que o tempo parou e recomeçou aqui.


1h52

Sabes os rios que correm entre nós
e os espaços puídos de onde te escapas e me assaltas a desjuventude.

2h00

Quero o tempo fechado. Quero-o parado neste instante em que durmo sob o que escrevo. Quero parar aqui e viver. Quero a repetição sempre nova. Esquecer-me de tudo e reviver cada detalhe sem saber que já vivi. Quero a saudade consolidada em versos. O saciar dos vazios tão humanos. Não sei o que escrevo a estas horas. Pode isto ser um sonho do qual não acordei. Sinto que nasci hoje com meia dúzia de memórias implantadas e o amanhã apaga mais uma. Preencho cada fenda com lágrimas e palavras. Construo castelos com plantas fragmentadas. 
Pudesse tudo permanecer sagrado...
Tratei de alguns dias com o cuidado e amor de um deus. Profano o Tempo que lhes tocou, que me tocou. Nascemos sem memória e morremos esquecidos dela.

2h07

Saudades de mim, que me deixei longe.

Entre a alma e o corpo, toda a distância entre lá e aqui.

2h19

Sem querer corri mais depressa
e afundei os meus olhos em mil dias por vir
que nunca vieram
simulamos extensões de nós além de nós e sofremos desvios insidiosos.
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somos só mortais com ficções de lembranças de antigas transcendências.
na solidão nus, descalços e sedentos por mais que nós, por mais que isto.
somos biliões e estamos separados por espaços mais vastos que o espaço.
Estamos sempre sós.

17h57

Escrevíamos poesia pela cidade,
mortais esquecidos de nós



MF









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