segunda-feira, 6 de julho de 2015



[Pensamentos]


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Pergunto-me se assumimos um nível, se alcançamos um lugar intransponível sem ponte que mantenha contacto com o mundo exterior. Porque sinto-me ilha - acima e debaixo de mim uma abóbada de interposta escuridão e sinfonias, paleta de cores, de palavras, memórias, paisagens, histórias, iluminações, desgostos, brechas para o sonho sideral e poços para o sem tempo morto onde morro. E talvez eu nem seja nada, e acho-me intocável. E digo que o mundo enlouqueceu. 
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As tuas palavras soam falsas e sinto que te afastas, mas talvez as nossas almas nunca se tenham encontrado na realidade - Tu, à procura do teu tudo e da tua verdade; - eu, à procura de expandir a minha alma até à fusão perfeita com aquilo que não sei e ávida por criar, escrever, tocar. E onde entra o amor, a paixão? - Bálsamos apenas, desta busca que desgasta corpo e alma. Pausas apenas, do suor da razão que corre, corre, desgovernada e atolada em papeis, ceifando a vida e deixando o cansaço impossível de descansar. 

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Ambos escrevemos, ambos amámos no grau insidioso dos poetas, e nada morre em nós apesar de nos parecer matar.  Sinto ciúmes das palavras que envias aos teus fantasmas. Em relação a nós - Podemos ficar imutáveis no ar, prolongando a ilusão das pontes, ou estragar tudo e nem sequer sobrevivermos fantasmas.

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Olha as estrelas e as recordações sépia presas a telas polvilhadas de pó e saudade. Pergunto-me também se fomos somente o rasto de quem um dia fomos e está morto. O resgate da nossa melhor vontade. A tentativa de amar com os corações jovens que a nossa juventude encaneceu.
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A alma ambiciona um breve mas cheio vislumbre daquilo que a podia Salvar, sabe que são ilusórias todas as grandezas e tragédias humanas, e que forjamos na mente ficções que ultrapassam a natureza real das coisas; mas o corpo ainda é corpo e somos poetas humanos - adiamos a filosofia para depois enquanto o fogo ainda se alimenta de um qualquer momento definido no tempo, revisitado, adornado, ressentido, na ânsia premente de ter uma história como as histórias que nos fazem tremer e prostrar espiritualmente diante os seus criadores ou protagonistas vivos. Queremos uma história, a Beleza, e depois morrer.

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Poderíamos aceder aos segredos máximos, últimos. No fim do cosmos, no começo do Tempo. Contar-se-iam histórias acerca de nós -  " E juntos, recuaram até ao começo do Tempo onde não havia tempo nenhum"; Poderíamos abarcar a supra realidade e descobrir o segredo da matéria e do espírito que está contido nela. E mesmo assim, não saberíamos Amar. Não desbravaríamos nem mais um pouco a arte insondável de saber Amar.


MF



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