[ESCRITA AUTOMÁTICA]
15 de Julho
II
René Magritte, The Lovers I (1928) |
*
(3h38)
Por último espero, no breve apêndice de gestos gastos e perecíveis. Foi um sem número de esperas sem furor e sem esperança. Duvido que te esqueças quando e onde fomos ou estivemos, porque na estrada do pelouro deixei meu rasto a sangue. Ainda povoas os núcleos dos meus cansaços como maldita condenação precedida ao teu real valor. Pressentes talvez que ainda me manténs acordada numa semi-morte no mundo calado de um quarto depois das três. Só os ponteiros do relógio marcam o sólido frame parado do meu inquieto fluxo inconsciente. Envio-te uma miríade de nostalgias acres em navios aportados nos teus sonhos. De manhã continua - na tua simulação de vida, como eu e toda a gente.
*
*
(2h31)
Pesados escombros de beleza estilhaçada… Não toco, não posso tocar as janelas que principiam de novo o queimar do teu rosto. Ao longe e contigo, o sol e a idade ainda jovem. Liguei os teus lábios ao universo, que adormeceu perto de mim e me beijou o rosto enlevado nos sonhos das canções e do esquecimento teu. Obliterámos o mundo, nós dois, e hoje navegas comigo fantasma. Lembras-me na insónia que sou ainda humana e penso cada faca e dispo os nossos quadros de paisagens que não são daqui, para logo resgatar toda a poesia confinada ao gasto chão de um sótão vazio, e ela voa para te cobrir e pintar de novo. Moreno falcão anímico, viste-me quase toda a alma.
(2h31)
*
(12h45)
Sem comentários:
Enviar um comentário