[Memorandos]
Setembro
17.09
Somos Deus esquecidos de Deus?
15.09
São os meus olhos que tento ultrapassar - ver para lá do corpo
amar debaixo da carne.
13.09
Tudo já aconteceu?
*
O universo chorando
e/ou a minha mente mais longe que as estrelas.
04.09
Andei também embriagada
de vida
a vida subiu-me à cabeça
com os seus rios,
montanhas, sinfonias de
nós mortais
e só chorei de querer ficar
aqui para sempre
sempre aqui, chorei de
haver amanhã
sempre foi um agora prolongado um dia.
como as borboletas.
*
Quero escrever leveza na palma da minha mão.
03.09
Apago-te agora o rosto
não sei quem és
mas sei que estamos vivos
dreampop no carro. não falamos
(porque haveríamos?)
no silêncio dizemos
um ao outro com o nosso sentir,
que já não há Solidão,
onde estamos unidos pela mesma canção.
podia ser assim tão simples.
(é assim tão simples.)
02.09
Bates à porta do teu fantasma
e já não vês o teu humano
Bates à porta do teu fantasma
e o que encontras
é
um humano.
20.09
Pressa do mundo e de um simultâneo lugar sagrado
Respirar e ser puro.
Respirar e sem mácula.
Na sua inocência eles conspurcam o mundo.
21.09
Uma veia na cabeça a latejar
as têmporas comprimidas,
o sono através do dia.
mas podia ser pior: podia nem chorar.
*
Ontem doías no coração,
Hoje dóis na cabeça.
(podia ser só no coração?
na cabeça não, na cabeça não...)
*
Se houvesse um Pai eu dizia - Pai,
segura a minha cabeça
(fizeste o mundo e não poderias
cuidar da minha cabeça?
e teres mãos de seda
e respirares sobre mim,
e sentir a tua presença no quarto vazio
e emprestares-me um pouco,
com teu sopro,
tua graça.)
imensidão vazia Só de mim
Esta noite dormi e acordei
com o mesmo peso com
que me deitei
e dizem que as lágrimas
são águias que trazem para fora
a excedência
mas foram somente água e sal
e o sal não sanou, não matou o que mata
e eu limpei o meu rosto
e no silêncio gritei Pai,
porque é dia agora e as pessoas vivem nos dias
sem âncoras. sem sono. sem ausência.
Pai, a Doença voltou.
quem opera Dentro?
(Diz-me que há uma razão maior
que o Poema.)
MF
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