sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018



(Memorandos)


Comecei-me a dispersar
Borboletas de papel
Nasciam e morriam todos os dias
Ideias
Nascentes
Correntes
Torrentes
Um mar onde era
Um mar onde fui
Um mar onde seria
Borboletas de papel
Todas possiveis

*
Quero ser só fundida a tudo
E tudo ser resposta
Reconciliado com esse saber
Praia no coracão
Futuro-passado-presente
Embebido de sentido
Sem palavras sempre
Mas permanente
Tudo aceite e antevisto
Sem estertores
Sem tambores
De estrépito ou guerra
É que a vida era uma flor
Sem futuro porque
Desabrochada agora

*
(ad infinitum)
Acordares prematuros doem sempre
Mas é dia
A manha é fria mas bela
E não entendes mas sabes
Dos rios dentro de ti
De lágrimas e risos
Por toda a existência

*
(sonho)
Ondulavas sozinha na noite
Teu amante era um espelho
*
Os nervos envoltos
No lampejo da ultima Primavera
Não queria deixar ir
É a vontade de permanência em mim.

*

(12 de Janeiro) (caderno de sonhos) " Percebo que está amputado, cego... O meu coração cai-me dentro."
Não tinha olhos
Eu ouvi
Tua-nossa voz dentro da minha cabeca
"Se ao menos eu tivesse os meus olhos"
Sim, eu vi - parcialmente
Tua-nossa cegueira. 
A casa mais escura e um filtro esverdeado, abismal
Tudo estava contaminado até ao espírito
Lentes caídas numa lama sem nome
Incompreensível aos nossos coracões
Eu senti teu terror irmão
Tua prisão
Tua escuridão
E tive de acordar
Mas não houve expiação
(só no esquecimento?)
Porque não era somente um sonho
Era aquilo dentro de ti,
espraiando-se pelos dias.


MF



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