Um dia seremos velhos, em nós as marcas do tempo e da vida. Sonho estar lúcida até ao fim, sonho rir das histórias que não quero esquecer, sonho partilhar todas as falsas partidas, todos os pequenos sucessos, todos os segredos da vida. Recordarei os dias de Sol tão distantes, com saudade e não com amargura, porque vivi. Embalada em memórias cálidas, com réstias das almas de quem por mim passou, restos de sonhos, restos de fracassos, restos de promessas...
Nesta insónia à beira do sono consigo, finalmente, ver-nos ao longe velhos em cenário onírico... minto e fantasio sob um céu estrelado, sobre o universo em mim, sobre todas as possibilidades, todas a histórias, todas as escolhas, e algures acredito que vivi tudo isso, todas a vidas, histórias possíveis, num outro mundo... Fui mil pessoas mas no fim, eu mesma, sempre eu.
Invento algo para me deixar morrer, não um céu, mas a confiança que fui tudo o que podia ter sido, escolhi os melhores trilhos, mesmo estando cega, escolhi quem me podia ter feito mais viva, talhei luz a partir da sombra, fiz da vida um poema.
Não tenho medo, deixo-me ir com a magnificência do céu que me espelha a alma, a alma tão cheia de anos, tão cheia de perguntas... mas o mistério é o que nos faz viver. Talvez no ultimo segundo todas as imagens, todos os cheiros, todas as cores, todas as memórias acorram a mim, num turbilhão de entendimento e só aí me seja permitido morrer com o segredo, selado em lábios ainda quentes. Talvez o segredo fosse não haver segredo, talvez o segredo seja apenas navegar.
MF
Um dia seremos velhos, mas hoje somos jovens, acordo deste devaneio e vou viver.
MF
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