domingo, 20 de abril de 2014

Desassossego



Escrevo sem saber porquê
inutilmente, obsessivamente,
em rasgos raros de imagens
que perpassam a minha mente
palavras em torrente procuram
pintar o que não sei, descansar,
acalmar tempestades sem nome

Escrevo sem nexo, in média rés
caos de palavras e pensamentos
à espera de me acordar deste
torpor consciente

Para mim são todas as palavras
escrevo, talvez, para ler a alma -
serenidade desassossegada, dor
calada, memórias sem estradas
resquícios de sonhos inebriados
ímpetos de sangue jovem

Criei mil mundos dentro deste
mundos efémeros que me falharam

Morro de novo, vazia em mim
sorvi o universo num trago, caí
num céu sem tempo, perdi-me,
vãs foram todas as promessas,
menos que vento, tão fugazes
choro sem chorar - colossal 
e desperdiçado esforço

Choro a irremediabilidade da minha
 sina de ser Só na flor da vida
leio o emaranhado desconexo
de imagens e memórias vívidas,
busco saída das teias a que amo
estar presa

Tento encontrar partes de mim 
no mundo, encontrar um sentido
em cada manhã, em cada abraço
cada dor e cada graça. Encontrar 
 sentido aqui. Alcançar-me, conquistar-me,
 tomar as rédeas  de mim

Quis ser tudo, sendo nada
quis-me dar, sem ser minha

Sou máquina feita de carne, sou profeta,
adivinhei cada dor, tragédia, na esteira do Sol
sou um labirinto de vontades e desalento
sou cada lágrima vertida ou retida, por 
cada história sem adeus.

Sou inerte. Sou sem ser o que não sei
sou um caos, tentando achar ordem...


MF

2 comentários:

  1. Muito obrigada pelo seu comentário, é muito importante para mim receber esse feedback.
    Foi talvez o meu poema mais espontâneo e tive medo que soasse um pouco " caótico", para ser realmente entendido. No entanto, era esse o meu estado de espírito... Muito obrigada, críticas são bem vindas :)

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