segunda-feira, 26 de maio de 2014

Espero-te, Alma incógnita

   

     Inalo um aroma no ar, este influi-se-me em cada célula minha, sinto-me viva de novo. O teu aroma. As nossas almas deverão vaguear pelos mesmos trilhos,  as nossas batidas deverão ser síncronas. Talvez seja por isso que nos sentimos tão unidos e que sinto que conheço cada nuance do teu ser, visceralmente, como se já tivéssemos estado juntos numa outra vida, num outro tempo, vivido mil histórias juntos. Se houver um espaço entre almas, o nosso deverá ser exíguo; sem minúcia poder-se-ia retratar uma só alma em dois corpos vivos, pois estas cantam variações de uma mesma sinfonia, vêem num mesmo espectro de cores. 
   Acordo. Inventei-nos agora, neste súbito acesso de imaginação, na berma do sonho do exílio da solidão - Não sei quem és, mas sei que virás, gémea alma minha...Virás em silêncio, arrebatar-me-ás a alma num olhar, reconhecer-te-ei num sobressalto, na divisão de um segundo. Virás como vem a felicidade - sem que eu a espere, quando tiver já parado de a tentar encontrar. Virás, como vem o Sol - após tribulações temporais, dentro e fora de mim. Virás, quando o destino assim o quiser. Até lá, sonho-te, esculpo no silêncio a tua voz, esculpo na escuridão teu rosto, sorriso e olhar etéreo, esculpo no ar diáfano tua mente, teu coração sem mácula, os teus pensamentos brilhantes, o aroma de mil primaveras, que emanas. Esculpo-te. Ergo, sem esperança, as minhas mãos pesadas, tentando agarrar pedaços desenhados de ti no ar, pura a ânsia de te sentir. Pudesses tu ser já real. Pudesses tu chegar no vento da alvorada que se advinha breve, nesta madrugada insone...

MF

Sem comentários:

Enviar um comentário

  [Serás humano até ao fim] caminhas tocando as paredes numa divisão obscura os caminhos múltiplos, as escolhas pressionadas por um tempo de...