quarta-feira, 7 de maio de 2014

Passado


"Qual de nós pode, voltando-se no caminho onde não há regresso, dizer que o seguiu como devia ter seguido?" - Pessoa


   Em horas insones tento vislumbrar esse mar que me trás memórias na maré, tento vislumbrar quem fui, tentando não dissociar de quem sou, mas quem sou já não é aquela ao longe que vejo, frágil, a flutuar em quimeras. Penso, " e se eu voltasse, ali, daquela vez?", mas logo me perco numa teia de possibilidades, de vidas. Estou aqui, sou eu por tudo o que escolhi, por tudo o que fiz, mas é sinuoso o vicio de recordar e pensar em tudo o que deixei passar, tudo o que deixei cair das minhas mãos, tudo o que lutei para ter, tudo aquilo que pensei possuir mas foi efémero, tudo aquilo que me trouxe dor, tudo aquilo que mudaria hoje. Teimamos em açoitar-nos pelas decisões que tomámos no passado, mas isso não demonstrará uma falta de fé em nós próprios? Porque, apesar de tudo, a nossa essência talvez seja fixa e devemos acreditar que o nosso Eu do passado tomou a decisão mais acertada em cada presente.  Agora estou no presente, que amanhã será também passado, agora posso olhar para trás no tempo e tentar adivinhar os desígnios futuros, agora é o tempo em que temos o máximo de conhecimento de toda a nossa existência. Mas o passado já foi um agora, então de nada vale pensar que deveríamos ter agido de maneira diferente...

MF

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