quinta-feira, 8 de maio de 2014

Se rimos mais do que chorámos...



" Os deuses dão agora para tirar depois" -  Oscar Wilde

  Por vezes penso quão irónicas e paradoxais serão as leis que nos regem, se é que há realmente leis, penso se será inevitável sofrermos pelas mesmas coisas que nos fizeram tão felizes, um dia. É como se tivesse de haver sempre um equilíbrio sinistro - As nossas felicidades trazem já em si a semente correspondente do sofrimento, ou o seu prenúncio, e a dor é diretamente proporcional às alegrias que um dia arrebataram um coração. Possuímos o sol e o espaço sideral por momentos efémeros, e acabamos queimados pelo brilho desse mesmo sol, acabamos perdidos nesse mesmo espaço, sem saber retornar de novo a nós. Nascemos só para rastejar e sonhar? Será a felicidade pura só para os deuses, e o seu obséquio divino não passa de uma cópia baça, obsoleta, um presente envenenado ? Temos medo, medo de nos sentirmos realmente vivos, porque nesse mesmo instante a experiência que possuímos sussurra ao nosso ouvido " Não te enleves tanto, não te percas, não te esqueças de ti nesse êxtase, pois tudo se degrada no fim", mas somos ingénuos, reerguemo-nos das cinzas e acreditamos que há algum momento, algum lugar, alguma coisa que irá fazer os nossos olhos brilharem para sempre... Somos humanos, não nos deixamos morrer nas nossas dores, calejados achamos força dentro de nós, e vale a pena viver, se ao menos rimos mais do que chorámos, se ao menos nos sentimos vivos por um momento, pois este tornou-se eterno, ainda que a sua memória possa apunhalar fria de nostalgia em horas de desolação.

MF

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