quinta-feira, 1 de maio de 2014

Quantas palavras no silêncio?

  
~29.04.2014

"Entre alma e alma há o abismo de serem almas" - O livro do desassossego

  Talvez haja mesmo um abismo entre duas almas, talvez nunca cheguemos realmente ao âmago de alguém, por mais que julguemos ter decifrado toda a sua personalidade, cada nuance dela. Faltam-nos as palavras para nos exprimirmos, para dar a chave da nossa alma, e todas se revelam insuficientes quando comparadas com a simplicidade nobre do silêncio - silêncio transportado num olhar que na sua intensidade almeja permitir um vislumbre da sua alma, almeja verter no ar significados. Somente posso adivinhar tudo aquilo que te prendeu as palavras, talvez seja o mesmo que prende as minhas e aí , nesse momento, há a comunicação perfeita, ainda que baseada em expetativas mútuas. Espero que os meus silêncios não sejam vagos, daqueles que se perdem no ar, mas silêncios que ficam na memória, como um discurso eloquente. Que os meus silêncios se façam palavras, e as palavras frases, na tua mente. Porque talvez este silêncio não seja a ausência de palavras, mas sim o excesso delas, que num turbilhão perpassam a nossa mente, caóticas, de modo que nada conseguimos dizer. Há mil palavras a flutuar na quietude pesada.
  O silêncio talvez seja a linguagem mais verdadeira, mais pura, mais intensa, mais instintiva, mais simples e universal que existe, caso haja a sensibilidade para o entender. As palavras atropelam-se, geram mal entendidos, mas o silêncio... o silêncio é solene, assim como o olhar que o contém.

MF

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