quinta-feira, 1 de maio de 2014

Um comboio sempre atrasado

  
    Nostálgica do que não foi, do que não vi, do que não senti, do que não vivi.
  
  Era um vez um comboio sempre atrasado, sempre fora de sincronização com o tempo e com o espaço. Passou por vários apeadeiros mas nenhum lhe suscitou interesse suficiente para sair do seu trilho e parar. Ou assim pensou... mais tarde, recordou um dos apeadeiros e quis voltar, mas já não estava lá ninguém, quem o viu pela primeira vez - este partiu para a sua própria viajem, porque o tempo não para e urge a necessidade de viver. Para o comboio também já nada havia ali, a não ser réstias de planos não consumados, cinzas vagas de possíveis histórias e aventuras. Assim, seguiu viajem, atormentado por todas as falsas memórias que inventou, na sua solidão. Como estaria se tivesse parado da primeira vez, quando havia ali alguém que tanto queria seguir viajem com ele? Para sempre atrasado, sente tudo tarde demais, vislumbra futuros e oportunidades tarde demais, e mesmo as dores arrebatam o seu coração furtivas, quando já nada o faria prever. E chora, chora muito depois da queda, todas as lágrimas acumuladas. No fundo de si talvez saiba que está condenado a viajar eternamente, solitário, na linha da nostalgia e do arrependimento.Talvez a sua sina, o seu carma e o seu calvário, seja chorar pelas coisas que nunca foram mas podiam ter sido, tivesse ele o sentido de oportunidade. Quer encontrar outra estação que o queira receber e que seja bela ao longe, um sonho de descanso, um sonho de companhia, não quer chegar atrasado mais nenhuma vez...


MF

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