segunda-feira, 16 de junho de 2014

A Câmpanula de Vidro








Título: A Câmpanula de Vidro ( "The Bell Jar")
Autor: Sylvia Plath
Editora: Assírio & Alvim
Nº de Páginas: 288


Sinopse: "Sylvia Plath e a sua obra têm sido encaradas sob diferentes perspectivastodas elas parcelares e quiçá erróneas. Há quem veja nela mártir romântica, autora de uma obra vivida intensamente até à exaustão e com ela se diluindo. Há quem veja nela percursora do feminismo, da revolta contra o universo normativo masculino. Há quem veja nela, o discurso político, pacifista, participando das manifestações ideológicas contra o sistema que atingirão o auge nos finais da década seguinte."


   Com contornos autobiográficos, a " Câmpanula de vidro" é a viagem de Esther, personagem principal e alter ego de Sylvia Plath, pelos caminhos tortuosos da depressão, que culminam em várias tentativas de suicídio falhadas e consequente tratamento psiquiátrico. É assim, uma leitura pesada, que não agradará a quem não tenha passado por experiências de abatimento existencial mais ou menos relevantes. Esther sente-se presa dentro de uma câmpanula de vidro, asfixiada por ela "no seu ar amargo" ; Sente-se à beira de uma figueira - cada figo representa um futuro - marido, casa e filhos, uma poetisa ou uma atleta famosa,etc, no entanto, ela não consegue escolher um caminho, um "figo", pois optar por um significa perder todos os outros. Vítima de abulia, deste modo envelhece, " cheia de fome", debaixo da figueira carregada de figos, que pouco a pouco, caem inertes junto a si....
Esther sente-se limitada e pressionada por um mundo cheio de convenções hipócritas, cheio de objetivos e estereótipos de vida banais: Ela não quer ser mãe, com filhos, com um marido prepotente, não quer só existir, viver por hábito; Ela quer ser tudo, quer escrever, quer fazer arte com as suas palavras. Esther é um grito do feminismo. As descrições cruas e pertinentes, na primeira pessoa, conseguem aproximar o leitor do estado sinuoso que pouco a pouco se apodera do espírito desta mulher. O final é aberto, mas na minha mente curiosamente otimista, esta recebe alta e regressa ao mundo renascida, remendada. Resta saber se realmente ficou "curada", dessa doença do espírito que tudo envenena, chamada depressão. Talvez Esther tenha um final feliz, talvez a "câmpanula" não se tenha voltado a fechar sobre si. O mesmo não se pode dizer de Sylvia, que tragicamente se suicidou pouco depois da publicação deste livro. 
   Algumas pessoas simplesmente deixam-se vencer. Vencer pelo cansaço, vencer pela frustração, pela apatia, pelo sentimento do absurdo. Algumas pessoas nasceram com um espírito demasiado brilhante para o seu tempo, cheias de potencialidades dentro de si, mas a lucidez e a inteligência andam de mãos dadas com abatimentos da mente - Sylvia Plath é uma dessas pessoas, amava a vida em certos momentos mas trazia dentro de si um veneno mais forte, ao qual sucumbiu, voluntáriamente...

"Respirei fundo e ouvi o bater do meu coração.

Estou viva, estou viva, estou viva."

Nota : 6,5/10

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