segunda-feira, 28 de julho de 2014

Mar



27 de Julho de 2014

   Ao pé do mar fecho os olhos, sinto na pele o beijo de cada onda salina. Fecho os olhos e por momentos penso em nada. Literalmente nada. A minha mente esvazia-se por completo, sinto cada célula minha, cada pulsar sanguíneo. Estou feliz - a felicidade de uma paz ancestral, fundamental...
   O mar estende-se por milhares de quilómetros e fito o horizonte, encadeada pelo sol do fim da tarde. Queria ir mais além, mas não me atrevo. Sou pequena demais. Sinto que cada dor, cada pensamento encalhado, é lavado, purificado nestas águas: cada onda limpa mais a minha alma. Respiro profundamente o ar. Cheira a sal. Sorrio ao ver crianças a brincar e a rir. Riam, o mais que puderem, penso eu. Olho para todas as pessoas à minha volta e sou assaltada por um pensamento inusitado: cada uma delas irá desaparecer, estas crianças irão assumir o seu lugar. Há uma certa beleza, uma certa poesia, na ordem natural das coisas. Alguns almejam a eternidade, eu almejo a completude, a fusão com a natureza ( não será este o modo de sermos eternos mil vezes na vida?) de modo que a morte seja apenas dar lugar a outrem, para experienciar com novos olhos tudo aquilo que nos rodeia. Um novo alguém, um dia, vai estar exatamente neste local, a esta hora, sob este céu, sob esta luz - maravilhado com a transcendência que o mar nos empresta ao tocar-nos, absorto com a sabedoria expressa no seu murmulhar cíclico. Vai pensar exatamente o mesmo que eu -  a felicidade é simples, tudo está em mim neste momento.

Vou para casa mais leve, mais clara, etérea.
Com uma serenidade humana.

MF

Sem comentários:

Enviar um comentário

  [Serás humano até ao fim] caminhas tocando as paredes numa divisão obscura os caminhos múltiplos, as escolhas pressionadas por um tempo de...