terça-feira, 22 de julho de 2014

Sem trono, sem destino, sem lugar




Eu sei que somos breves, que somos
rios que inventam caminhos
afogados nas próprias águas, à deriva
de si
sonhando o sonho da completude
solitários rios...

Eu sei que somos frágeis, que somos
árvores sem raízes
impassivelmente de pé, aquando
tempestades ventosas
sonhando sentir o céu acima
frágeis ramos...

Eu sei que somos orgulhosos, que somos
falsos reis e rainhas
asfixiados por cada gesto renegado
cultivando disciplina e indiferença
sonhando decifrar silêncios e ler mentes
envenenados corações...

Afogada, asfixiada por tudo o que calei
árvore velha, discorro a vida sem a ver
o vento traz memórias que fazem tremer
tentando preservar destroços dignos de mim,
calo cada palavra que se me perpassa,
retraio o coração e o olhar
rainha sem trono
rio sem destino
árvore sem lugar.

MF

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