quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Através dos meus olhos

  


  Só queria que visses, através do meus olhos, aquilo que eu vi. Só queria que sentisses, através do meu coração, aquilo que eu senti. É uma súplica dos abismos de mim, é um abatimento mudo, um desespero irrisório, este de querer que soubesses o que era estar dentro de mim, o de querer que as nossas almas se fundissem e se perscrutassem mutuamente. Almas unas, eternas num espaço-tempo só nosso - os meus olhos, os teus, as minhas paisagens, as tuas, as minhas memórias, (cada nuance, cada traço, cada quadro, cada intensidade de sentimentos) as tuas memórias. Mas nunca nos alcançamos plenamente, os corpos não falam a alma; estamos sempre separados em algum limiar mesmo quando os nossos lábios se movem por instinto almejando escoar significados e aproximar dois seres do núcleo um do outro.

  Senti-me leve como se não tivesse corpo. Estou hoje pesada. Hoje sinto a nostalgia e a ânsia de transcrever em palavras , sentimentos perfeitos cá dentro, velados do mundo, velados de ti. Mas as palavras são imperfeitas e insuficientes, e o meu silêncio nada conta. Não consigo, de modo algum, pintar aquilo que vejo cá dentro - memórias do meu ponto de vista, diáfanas mas fulgurantes, que ameaçam desvanecerem-se mais um pouco a cada dia, desvanecendo assim a vida em mim. 
  
  Por isso sonho, o mais inebriado dos desejos: pudesses tu ser eu, por uma fração de segundo, continuando a seres tu.

MF

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