terça-feira, 2 de setembro de 2014

Confissão solitária

Sou estupidamente fraca, estupidamente ingénua, estupidamente orgulhosa ou racional ou pragmática. Irracionalmente insegura, fria e apática e melancólica. Sou sozinha, pretensiosa egocêntrica, descrente ou mística, inquieta ou serena. Sou a represa que contém a fúria de mil mares passados e só quebra onde ninguém vê. Sou o que sou e o que não sou. Visto-me de contradição - Sou estupidamente apaixonada e sensível e humana. Mas repito: estupidamente orgulhosa. E preciso de ti.

Sou quem quebra na solidão do silêncio. Quebro. Deito-me. As lágrimas caem a medo. Depois de ti não sei ser sem ti. Invento razões para enganar o coração mas a razão não é o seu domínio. O meu não se importa de esbarrar contra a mesma parede mil vezes, supersónico. Encontra prazer mórbido em restaurar-se e , afinal, depois das quedas nascem poemas. Mas já não quero poemas, não quero ter de os escrever, porque enquanto escrevo não vivo, somente remexo memórias e choro e confundo e aprumo e desejo.

Constantemente arrependida do que nem sei, nostálgica do que foi e do que nem foi, sonhadora sem saber o que sonho e cansada demais para procurar. Cobarde para viver, para saltar do penhasco onde fito e analiso ao milímetro o mundo. Cobarde para admitir que não sou forte, nem infalível, nem te esqueço.

Fazes-me escrever de novo. Dispo a minha alma nestas palavras. Conheces-me. Sabes que só minto ao meu próprio coração. Só queria sinais que estou aí, no mesmo lugar que te concedo em mim, porque afinal eu continuo a ser eu, no final sou estupidamente eu - com escudos menos sólidos que o ar.

MF



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