sábado, 6 de setembro de 2014

Eterno Misantropo




I

Meu coração, meu frágil masoquista coração!
- Nunca te cansas?
- Nunca te enojas de te vergar às arrecuas,
com medo de te ver?
Estás vivo mas estás morto,
os teus olhos apagados,
o teu sangue lento e glacial,
só acordas para te apunhalar
pois a dor é o teu bálsamo irrisório
meu cadáver indolente,
gritas para mim:
- "antes a dor que o vácuo e o abismo!"
Ah! Rogo aos céus silentes, grandiosos,
vagos e indiferentes para te ensinarem
a não amar a lama em que te revolves
pois tu amas tudo
o que não deverias amar!
Amas tudo o que te sorve a vida
porque tens medo de viver,
amas tudo o que te inspira melancolia
fazes poemas à melancolia,
meu pseudo-artista,
marchas a vida (qual soldado de um pós-guerra),
meu soldado de guerras funestas inventadas...
- Sim! Sofres o que há e o que não há!
Não te mintas, não te aldrabes,
o passado está morto
e o futuro também,
já que matas o presente!
Ah, meu coração! desgraçado,
desaprendeste a viver,
viciado em licores malditos
que se transformam, parcialmente,
no teu sangue!
A Solidão guarda-te, embala-te
em sonhos distantes
estás sempre ausente e cansado.
e nunca dormes, nunca dormes...

Vai para o diabo! -
Deixa a melancolia para os homens sem alma,
os cínicos que já nasceram mortos;
Deixa os sonhos para quem sabe sonhar
e não se perde neles, inerte;
Deixa o amor para quem sabe amar as coisas belas
e se ama a si próprio;
e deixa a Solidão suicidar-se por estar só!
Porque, meu deus - tu tens alma!
És apenas jovem, tão jovem
e finges ser estrangeiro em ti e aqui.
Aceita o tempo, a luz e a sombra.
Aceita a vida e a morte e ama-te.
Meu deus,
- Ama-te.

Ah meu coração! Falo assim contigo -
sapiente, feroz, altiva e condescendente,
e és meu, eu sou tu...

MF

nota - poema inspirado por Nietszche



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