sexta-feira, 3 de outubro de 2014




[ o poeta]

I

Escreveres-me o olhar
a alma, a pele
receberes-me as lágrimas
escreveres-me os lábios,
escrever os teus...
e nunca morrermos
no tempo ou em nós
seres represa de toda esta
sensibilidade minha
e esculpires palácios
de palavras só para mim
só de mim
ver-me mais nobre,
mais alta, nos teus versos
sentir-me mais alta,
meu poeta,
meu devaneio,
meu ser que me curaria
feridas velhas
reais ou inventadas
nos recônditos do eu
sê real, não sejas
imaterial
porque nós aqui somos reais
precisamos de sentir
visceralmente
com a alma e com a carne,
somos débeis
somos incompletos
somos tolos por amor
envelhecerei na solidão
à tua espera, à nossa espera
não quero outro
que não seja poeta
que não sinta todas as coisas
profundamente
que não seja feito de palavras
e silêncios e paisagens,
e dores e fantasmas ,
e recantos fulgurantes ,
e recantos asfixiantes,
e delíros vãos, tristezas vãs
de sombras que roubem o sono
e memórias que roubem da vida
meu poeta,
meu devaneio,
sê real, sê humano
como eu, não diáfano
e faz do nosso amor
mais que amor,
mais que a vida
dois corpos, uma alma
enaltecimento dos gestos,
significados parados
no ar entre nós,
melodias caladas ante os lábios
meu poeta,
nunca te vi e já te escrevo
também me esperas?

MF





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