segunda-feira, 17 de novembro de 2014






[poema em forma de carta]

ler-me-ias então tudo o que disseste ter escrito. a lua como testemunha.
talvez aí as muralhas caíssem.
talvez aí te compreendesse.
talvez aí o passado ficasse restabelecido em paz,
e as cenas envoltas de novo com a inocência visceral com que as vivi;
e estas tempestades paradas;
e sermos de novo uma história para contar e não para esquecer.

ao ouvir-te as palavras escritas quebraria. sabes como sou sensível.
o meu coração estremeceria, mil réplicas sísmicas com epicentro em mim.
a serenidade impávida com que visto o meu rosto sempre que te vejo,
fingindo que não és mais que um estranho,
fingindo que não fomos mais que amigos,
despir-se-ia para dar lugar a mim. sabes como sou sensível.

não te pararia. choraria, abraçar-me-ias, beijar-me-ias. não te pararia.
porque me escreveste. se me escrevesses...
as palavras são sagradas. decerto, não mentirias nessas páginas.
iria acreditar que eram puras. como se fosses puro. como se fosses raro.

a cena repete - nós, apenas mortais, apenas falíveis, apenas jovens
e eu já escrevi isto tantas vezes: apenas eternos em nós.
isso é tudo, tem de ser.
a cena repete - aproximas-te por trás de mim e sinto-te os lábios
no meu rosto reminiscências várias de tantos outros beijos.
e cria-se o velho nosso mundo.
e hesito um segundo mas sou humana,
e adio a consciência pesada para depois. iremos ferir-nos depois.
e esqueço-me da facilidade com que me mentias nos olhos.
e esqueço-me que vocês já são três.

se as palavras fossem sagradas para ti...
a ambivalência retorna sem que eu a chame - não voltes. parar-te-ia.



MF







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