terça-feira, 16 de dezembro de 2014


 museu,
9 de Dezembro de 2014

Somos abandonados. Malditos mortais condenados. Caminhamos pelo mesmo chão de sempre, cercados pelas mesmas paredes de sempre. E somos tão bons. Somos tão maiores. Somos tão puros e apartados de cada hipótese de sentir. Dizemos estar bem. Estamos tão bem - a sós com a solidão. Queremos o coração intacto. Mas ainda somos humanos. Iguais a todos eles. Determinados aos mesmos desejos, ainda antes de nascermos. Determinados ao toque de outras mãos e a vozes além do silêncio da nossa. Ainda somos humanos - queremos gastar os sentidos, queremos explodir em pólvora, inebriados pelas cores, pelos cheiros, pelos sons e pelo tacto. Ter o mundo dentro de nós, cantar aos sete ventos a vida em nós - o peito tão cheio... a alma sem mais ânsias, mesmo que fosse apenas por um segundo. Só um segundo. Alimentada, enfim, pela simplicidade e grandeza cósmica da presença de outra que derruba em graça as barreiras invisíveis, e se ergue no nosso espaço em tréguas e calor.

Esquecermo-nos de nós.
Esquecer de traçar sentidos com a razão - A razão nunca nos deu espasmos transcendentes como nos deu o tremer do coração diante o mar, diante os poemas belos, diante as almas puras.
Esquecermo-nos, doce olvido, que um dia também iremos partir sem saber porque viemos. Não importa -  Porque o presente pode ser palco de eternidades microscópicas na régua do tempo.
Abolir a razão num instante qualquer em que somos humanos, em todas as possíveis plenitudes.
Humanos mas divinos por todas as nossas fraquezas. As nossas fraquezas, os nossos corpos fracos, e o nosso espírito tão grandioso. Quão belo.
Mesmo que todos sejamos acasos, creio às vezes sermos - Acasos divinos.

MF

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