domingo, 22 de fevereiro de 2015






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12:41h

Vou sentar-me e compor a substância que me faz eu. Tudo o que ela implora. Disse um dia que queria mais que a vida, que queria sentir tanto até queimar e eu queimei. Não posso voltar a queimar do mesmo modo, porque a juventude tornou-se mais velha e os meus lábios já não sentem o mesmo e o meu coração já não corre desenfreado. Vou sentar-me e compor a substância que me atormenta, desenhar um rosto na cadência melódica que enche o quarto. Transfigurar o emocional disperso, a solidão das coisas, a ânsia incógnita, a saudade em notas lentas. Fechar os olhos. Fingir que tudo isto ecoa internamente atravessando estas quatro paredes, as casas, as estradas, a distância absurdamente curta e vasta até ti. Acredito que há uma melodia a ser erguida. Perfeitos compassos, ritmos, perfeita escala, duração, encerramento divino de poderosas mensagens sem palavras. Inspiro todos os dias rastos de poesia, faço viagens no tempo, saboreio a mais poderosa das fontes - a nostalgia juvenil. Sei que um dia farei magia e sentirás um frémito distinto de tudo, porque não posso crer que sejamos apenas materiais. Não posso crer que não estejamos ligados de algum misterioso, transcendente modo.

Sou uma infinidade de camadas sobrepostas. Sou uma infinidade de perguntas sem resposta, um aglomerado de desejos e dores perpetradas por introspeções obsessivas. 
Sinto-me e desespero-me. Talvez sejas tu. Talvez seja outra coisa. Essa coisa de querer algo maior que a vida sendo só humana. 
Sinto-me e desespero-me. Talvez sejas tu. Talvez seja eu. Talvez o mundo seja realmente vasto para estar sozinha e eu acho que nos atingimos num qualquer instante - a minha alma a tua, a tua alma a minha. Recantos sombrios e belos. Talvez sejas tu (às vezes tenho a certeza). Talvez queira abraçar-te mais uma vez. E reconhecer que a minha maior camada é a de ser humana.



MF








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