sábado, 28 de fevereiro de 2015








I

Anseio o dia da extinção desta solidão - a impossibilidade de ser vista. a incomunicabilidade entre as ilhas. abismo maior que o mar, intangível.
não quero palavras. quero frémitos causados por sensações partilhadas e composições perfeitas. tocar a sensibilidade alheia; fazer sentir como é bela e atroz a melancolia. de como é divino e mundano o amor. de como é eloquente e trágica a finitude de todas as coisas. quero o mergulho nas trevas e paraísos de uma alma e o mergulho desta na minha, num instante belo em que os meus sentidos modelam transcendência.
a alma livre num corpo parado: não importa que outros passem e não se apercebam. quero apenas partilhar esse algo sem nome com mais um ser, comungar no lugar sem tempo. quero extinguir este algo aparentado com o medo. ser para sempre jovem em algum plano paralelo a este. nada esquecer, tudo lembrar. sobreviver à vida e à morte. provar que não há vazios entre o calor das estrelas. provar que somos mais que carne surgida do acaso. achar o cerne que me distingue e é eterno.
ajoelhar-me perante o céu e o mar e ao mesmo tempo erguer-se-me a alma com a noção da sua altura. quero tudo derramado num campo de memórias, sensações, cheiros, texturas, músicas, gestos, caras, paisagens, momentos, palavras, lágrimas, risos, quedas e ascensões.
Quero Ficar, quando for.



MF




Sem comentários:

Enviar um comentário

  [Serás humano até ao fim] caminhas tocando as paredes numa divisão obscura os caminhos múltiplos, as escolhas pressionadas por um tempo de...