[Se ao menos pudesse desligar a consciência e ser
corpo]
Corpos, sujos da saliva um do outro,
esquecimentos físicos, abstrações carnais,
eletricidades livres, arrebatadores atómicos,
plurais lançados no vácuo cósmico.
Corpos, perdidos no calor um do outro,
mãos, lábios, e todo o enterrar da razão,
toda a inutilidade fonética das palavras.
Corpos, vivos num agora sem expressão,
num estar estando, num estar folgoso,
mais que presente,
fiéis ao segurar dos segundos contra a pele,
ao abraçar dos segundos contra a alma,
ao abraçar da mortalidade magnânima,
jovem, ingénua, suja, etérea, finita, eterna.
Corpos, fronteiras físicas de nós, celas, portais,
coisas que gravam dor, coisas que gravam prazer
e são luz em quartos fechados.
Corpos, gritos de carne, revoltas
contra a inércia pensante,
perecíveis vasos da alma que o adormece,
com saudades de si, acordam-se um no outro.
Corpos, poesias tácteis escondidas do mundo,
ritmos escalatórios, voos circunscritos ao infinito,
tremedores sísmicos, ladrões da respiração,
inquietações na noite, prisioneiros à sede,
Corpos, com planos de transcendências
Corpos inocentes, corpos lascivos
Corpos esquecidos de que são apenas corpos
( mas tudo disseram).
( Rascunho de Março )
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