segunda-feira, 20 de abril de 2015

Experiencial

Se apenas me parasses e me dissolvesses
este desassossego
que perenemente adorno; faço-o meu,
desassossego -
é as horas sem ninguém
é a promessa de renovados cansaços
é o devir embaciado, os anos a decair,
as veias sem poder explodir, num estoiro existencial
desassossego - tornou-se a verdade para mim
Se apenas me salvasses, desta hiper racionalização
e me ensinasses uma nova forma de vida
me galvanizasses, me enlevasses, me batesses na alma,
para poder acordar
e me levantasses, por fim, os pesos sob o coração
e fosses mar que me lavaria das areias de mil passados
e mil futuros, que sem corpo me atacam e me roubam o sono.

Poderíamos, então, lançar-nos seguros de encontro ao Amanhã
uma vez curados os desejos pelos extremos,
- os poços fundos e os altares cósmicos
uma vez acelerado de novo o sangue,
nunca mais meu corpo parado, nunca mais
todo o espaço entre mim e as coisas, derrubado.
Oh, como gostaria que me iludisses,
como gostaria de inspirar um pouco das tuas filosofias
o peso das minhas é feroz;
acho que nunca mais posso voltar
Viverei, no pensamento,
Só na dúvida renasço, de súbito criança e
aberta, a todas as possibilidades
e então penso - e se não formos acasos sencientes?
- e se isto é um palco de teste,
 a Grande Experiência Existencial,
e aguentar até ao fim é o Fim?
porque por vezes senti alguma transcendência em mim
e nesses momentos, acreditei que podia ser divina, deus
incorporado e amnésico
e a eternidade uma espécie de tédio, (então morremos e nascemos mil vezes)
só lembrando, às vezes, por acidente, que somos deuses
e carregamos a saudade incógnita toda a vida,
pela casa que não nos lembramos.


MF

b




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