(Abril)
Apagou-se em mim. No crepúsculo de um dia há
13 milénios atrás. Apagou-se em mim e hoje transporto comigo uma solidão
cuidada, resguardo límpido e escuro onde me oculto, onde reconto os dias verdes
com medo das marés que lhes desfocam os contornos. Recolho-me, até ao atelier
onde monto brinquedos quebrados na esperança de voltar a ouvir risos. Somente
sombras, ecos perdidos, mas risos.
Queria
aquele doce medo de morrer. Doce tremer de voz, doce tremer de mãos...
Queria
aquele cheio no meu peito, incêndios no meu peito.
Mas apagou-se em mim.
Fogo.
Extinguiu-se-me das veias com fome lupina, mas acorda-me excruciante nas noites
sem ninguém. Fogo. Porque não vens de dia? Quando há humanos que clamam por ti.
Expande-te no meu corpo, onda cálida ascendente. Reduz a estilhaços, a cinzas,
a nada, esta pedra sólida que se alastra por todo o meu sangue e me faz tumba.
Hoje
gravito sob o meu próprio corpo e tudo é lento.
MF
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