sexta-feira, 1 de maio de 2015

[Fogo]







(Abril)

  Apagou-se em mim. No crepúsculo de um dia há 13 milénios atrás. Apagou-se em mim e hoje transporto comigo uma solidão cuidada, resguardo límpido e escuro onde me oculto, onde reconto os dias verdes com medo das marés que lhes desfocam os contornos. Recolho-me, até ao atelier onde monto brinquedos quebrados na esperança de voltar a ouvir risos. Somente sombras, ecos perdidos, mas risos.

Queria aquele doce medo de morrer. Doce tremer de voz, doce tremer de mãos...
Queria aquele cheio no meu peito, incêndios no meu peito.

  Mas apagou-se em mim.
Fogo. Extinguiu-se-me das veias com fome lupina, mas acorda-me excruciante nas noites sem ninguém. Fogo. Porque não vens de dia? Quando há humanos que clamam por ti. Expande-te no meu corpo, onda cálida ascendente. Reduz a estilhaços, a cinzas, a nada, esta pedra sólida que se alastra por todo o meu sangue e me faz tumba.



Hoje gravito sob o meu próprio corpo e tudo é lento.


MF

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