Recomponho os
nossos fantasmas.
A saudade
trepida nos meus lábios e estes só encaixam nos teus.
Seria bom
dormir e as palavras se não me assaltarem assim, numa violência a meio da
noite. Seria bom dormir. Mas é urgente escrever. É urgente morrer e deixar
provas de que fui viva. Ainda estremeço ao lembrar-me de como estremecia. Ainda estremeço ao lembrar-me de como fui viva. Pudesse eu arrancar o coração e ensopá-lo noutras águas que não as turvas
melancólicas onde este petrifica. E depois devolve-lo de novo ao meu peito onde este batesse
num fulgor ritmado.
Porque torpor é a pele
por cima da pele. Interfere.
Escava através
dos dias, resoluto em achares-me.
Escava até
encontrares o limiar da sombra, sem medo que a sombra te fira ou te encubra. A
sombra delineia e dá volume às formas. Não tenhas medo. Atrás de mim estou eu, pressente os
cânticos e as paisagens de luz. Estou à espera
de uma grande torre. De um grande plano para me lançar, cortada pelo ar. A
queda livre e a supra consciência dos sentidos.
Aquecer-me-ia por
inteiro, para um novo milénio de solidão.
MF
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