domingo, 7 de junho de 2015







7.06.2015


Relembro o verso de Rilke - " Hiersein ist herrlich " - estar aqui é admirável, nesta noite de silêncio onde a natureza recobrou a sua paz e os cheiros da terra, da relva, das flores, se misturam num éter desconhecido e familiar. Inspiro. Olho as estrelas, sinto o ar fresco. Como são pacificas as noites sem ninguém, as noites em que vou à varanda e a vila dorme. É errôneo escrever acerca das " noites insones que me envelhecem ou a terrível noite no coração", porque a verdadeira noite é esta e algo tão belo não pode ser profanado com metáforas pouco inspiradas. Não, a noite deve ser saudada em silêncio, a noite salva todos os que se matam dentro de quatro paredes quando não conseguem dormir. É segredo, mas partilho - não tentem adormecer quando as lágrimas ameaçam turvar o tecto. Houve uma noite em que vim à varanda, como hoje, e de repente o meu coração falhou de não saber ser coração, de repente estou só e nunca estive tão cheia. Inalo a fragrância que de dia não se mostra, guarda-se toda durante o dia, amadurece sob o sol e à noite solta-se como um manso suspirar de um deus, de encontro ao sem nome que debaixo desta pele se oculta e é da substância dos infinitos. Inspiro de novo. Parei. Todo o fluxo de lodo mundano, os olhos já não estão cansados. Poderia sentar-me nos degraus frios e não dormir. Mas tenho de dormir. A noite fica acordada por mim, vê-me dormir.


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Nasceram-me estes versos:

Morremos algures, entre aquilo que sonhamos,
como sinal eloquente de entrega à Terra.



MF
















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