sábado, 6 de junho de 2015

A ciência de chorar


Quadro: Antonio Nino Scimeca



em silêncio, germina uma dor que não culmina
no mar que escorre pelas faces, e nos sinaliza humanos
imperceptivelmente, engrandece-se a estrutura féretra que
substitui o sangue e perfura a carne, abrindo um vácuo ao seu redor,
para onde se esvai toda a vontade e todo o sal
e o ser está enfim, preso ao seu próprio corpo;
dentro de si, uma espécie de torpor desalmado
ou uma pedra que extingue o pulsar vivo do coração
mas ainda assim o ser sofre com a razão,
e nasce da sua boca seca um lamento:
" - Não sabem como são abençoados por poderem ainda chorar"
as estátuas sofrem em silêncio, como se fosse heróico quedar na própria dor
e não chorar, não mover, não quebrar
os inocentes anjos dão-nos a mão enquanto ainda falamos
depois, vão-se embora vencidos, lúcidos da sua própria fraqueza,
e quase revoltados com os corvos inertes que tentaram acordar
Anjos...que docemente beijem o corvo pela última vez
nunca com raiva, nunca, porque os corvos estão secos de lágrimas,
mas nos seus sonhos ainda choram, e os seus olhos ainda brilham,
porque sempre estiveram condenados e ainda assim anjos vieram
e não há maior dor que ver anjos chorar,
sem poder também reencontrar cá dentro, essa ciência

MF

Dustin O`Hallorand - Lumiere
https://www.youtube.com/watch?v=izUy0EIt4lE



2 comentários:

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