sábado, 6 de junho de 2015

[A Cura]




  

  Sempre aguentei as minhas dores - Tanto aquelas de origem indefinida, como aquelas com raízes bem conhecidas. Sempre as olhei de frente e sempre procurei palavras e metáforas para vesti-las. Apenas a dor do amante é insustentável. Porque é uma parte de mim que não se deixa tocar e que me morre sem que o queira. Desgastas-me. Consomes-me. Essa tua sombra...Quero tanto salvar-te, quero tanto. Deixem-me pegar-te no braço, deixem-me beijar-te através desta distância. Dormes uma hora mais cedo que eu, envio-te sonhos de maresias ancestrais que te alisem a expressão e a acalmem. Espero que as sintas. Estás em paz? Senão em vida, pelo menos enquanto dormes. Deixa-me chegar até a ti. Beijar-te-ei a testa, como se fosses uma criança, como se não fosses o homem que me galvanizou o coração e me acordou de novo o corpo. Queria que o teu corpo ainda implorasse por mais um dia. Pensei que a Cura fosse simultânea em dois seres que sintetizaram juntos um paraíso. Mas no fundo de mim sei que talvez não haja uma Cura para nós, e que nós apenas podemos ser bálsamos temporários um do outro. Mas que assim seja! - Ainda estou cá, ainda estás cá... ainda há dias, noites, manhãs e cidades, para nós.
Podemos morrer depois, quando a vida nos chegar por inteiro...

Trago em mim mil paradoxos que coexistem na berma da loucura, mas nenhum ultrapassa este em horror:
  " - Estou preso mas quero ir"; Estás preso a mim e queres partir, eufemismo de morrer ? - É algo terrível de se dizer. Porque agora acordaste-me e estou viva sem ti...




MF

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