sábado, 6 de junho de 2015

Ad Infinitum





andámos a amár-nos em sonhos sonhados antes de nos vermos
os olhos são cegos; apenas os corações pressentem os ténues sinais imemoriais
de danças no cimo do universo, onde o céu é fendido e posto a descoberto o sideral
e se lavram as perfeitas canções, sim - lá em cima não há palavras;
cantamos, e esquecemo-nos que há mundo
e que de manhã temos de voltar a estes corpos
porque os astros nos sentenciaram, invejosos da nossa dança;
mas algures em sonhos encontrámo-nos sem rosto; bebemos da essência imutável
os astros silenciaram-se perante as emanações anímicas entre nós
e do nosso amar sem corpo, inocentes volúpias sonhadoras,
e solenes sentenciaram - "amanhã acordam e de nada se lembrarão, como uma noite ébria na Terra,
em que duas carnes se tocam e hiperbolizam o momento com o álcool nas veias..."
sim - os astros olham as almas lá em cima e a eternidade não é para ser roubada:
 - separam cada alma, e o espaço torna-se frio,
flutuam almas solitárias enquanto estrelas nascem e morrem
e as almas choram por verem tanta beleza despontar e perecer, sozinhas no infinito
decidem, assim, descer à terra, a corpos serenos na madrugada
incorporam, e num olvido quase trágico esqueceram tudo o que viveram nas alturas
e são de novo corpos que despertam à primeira luz da manhã,
partem para os dias e um dia acham o corpo daquela alma com quem dançaram
decerto também ela escolheu descer... decerto também ela preferia cegar lá em cima a ver sozinha as estrelas...
ambas confiaram na Sorte e almejaram uma eternidade terrena conjunta,
sabiam que cá em baixo também se viam as estrelas e o mundo é redondo
e que a matéria podia também transcender, sabendo ainda melhor voar sentindo nos pés o chão fugir
" - Lá em baixo também se vêem as estrelas e o mundo é redondo..." - murmuraram no Sonho
 - sabem que os corações de carne pressentem, mesmo que os cérebros teimem em negar...
e nascerão e morrerão mil vezes para se reencontrarem, ad infinitum...



MF

pb




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