segunda-feira, 15 de junho de 2015

Caminhemos agora até ao céu da terra



Glenn Brady

" Vamos escapar, lá fora adivinham-se céus
mais belos que o Céu,
não olhes para trás para que Ela não te petrifique!"

- estou quebrado, não vês?

"Eu levo-te às minhas costas mesmo que levemos 
mil anos a percorrer uma milha,
e caso me peses a ponto de me quebrares as costas,
a ponto de ambos quedármos imóveis, presas
de chacais e da Sombra que alastra ao teu encalço,
nunca te direi Adeus,
porque não posso simplesmente largar-te, seguir
um caminho cego com as costas intactas
e a alma em estilhaços por sentir-te morrer à distância
o meu coração enegrecido e mudo de palpitações
cada vez mais lentas,
só e covarde de ter abandonado outro coração
dissolver-se-ia nas areias com a banda sonora
do último eco do teu,
quando morreste à distância;
Juntos vamos escrever as coisas belas, cortar contacto com Ela...
dá-Lhe descanso, outros poetas beijá-la-ão com palavras
e todos nós seremos presenteados a Ela no Final;
Deixa-me ser eu a assombrar-te por agora, tecendo
um bom assombro,
prometo não te ferir ou tornar o teu sangue Azul,
irei dissolver nele pequenas naves sónicas geradoras de ondas
que lançarão o teu sangue até cada recôndito do teu corpo
para que te sintas, cada milímetro de ti, ávido por calor e por dias"

- perdão... "um dia és tu, no outro é a Morte",
não és capaz de me partilhar com Ela,
anseias ser tu, todos os dias, todas as horas
e queres o teu rosto a flutuar no meu tecto e nas ruas da cidade...

 " Tens razão, quase que tenho vontade de te deixar
não por medo de Ela estar tão junto a nós e
por me trazer à memória fúnebres dias,
mas sim por saber que se o Amor não a vence
não vence o prematuro desejo que lhe tens,
então nada a vence, dizer-te então Adeus seria
um ímpeto misto de derrota e orgulho, afinal,
como podes amá-La, tanto ou mais que a uma alma
que te escreve e que te chora?
porque vieste ter comigo afinal?
parece que não acreditas quando te digo ´amo-te e
conheço a dor que não exprimes em palavras.`
Acredita - que já sofri e já a amei,
mas hoje, não nutro nem amor nem ódio por Ela,
afinal, ´como podemos odiar aquilo que nos incita a correr?`
- pensei eu, sim, Ela pode ser um gatilho para a Vida,
mas para ti é somente uma Sombra que te ocupa o pensamento
e à qual entregas versos vencidos
e corrompes os sonhos inserindo-a como Salvadora...
Mas Ela não te quer! Porque desejas algo que não te quer?
É ilusória, a centelha que vês nos seus olhos abstractos,
de facto, Ela está Morta, e recebe no seu abismo apenas mais morte.
Mas tu estás Vivo, estivemos tão vivos... não te lembras?"





MF

to pb







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