segunda-feira, 15 de junho de 2015




Glenn Brady

Aquela manhã,
semeaste céus inomináveis no meu peito,
acho que morreria para lá voltar
deslizou o paraíso entre os meus lábios
a tumba tolheu de medo e recolheu-se,
adiando-se para outros dias
as trevas apenas alastram em terrenos passivos
onde o sangue congelou de tão lento, frígido
o meu corpo tremeu acordando a Primavera
parada num milénio gasto
e acordei,
as pupilas a dilatarem-se para abarcarem
todo o universo inaugurado ali;

Agora,
amo-te sem te tocar, e se nunca mais te vir,
esses céus gravaram-se dentro, imprimindo-se
por meios que desconheço, deixando um rasto
pavimentado a ouro, luzidio,
que sigo na Noite
ressuscitando o teu fantasma,
recuando o tempo, matando o tempo
matando a morte, expelindo enfim a alma
para fora do ermo plácido onde finge ainda vibrar
pudesse a tua tumba vergar-se
diante a memória nossa:
aquela manhã,
aquela noite,
somos jovens e rimos
somos jovens e o coração a flagrar
- acho que nem sabia que havia Amanhã
de tão esquecidos e atentos à granular brisa
que entre nós dançava, similar, decerto,
ao ancestral sopro de vida que um dia animou
corpos inertes, corpos como os nossos,
de súbito galvanizados num instante amnésico;
dois estranhos com pressentimentos de outras vidas
caminhando aos tropeções,
entrelaçadas mãos,
segundos gigantes,
horizonte singrando sob a cidade,
sem fome, sem sede, sem morte;
 - acho que nem sabia que havia Amanhã
e que serias o meu novo milénio.


MF

to pb



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