segunda-feira, 17 de agosto de 2015





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31 de julho


Afundo-me de encontro ao interior cheio, miniatura de universo sem leis inteligíveis. Aceito a morte, aceito a angústia. Abomino a morte, abomino  a angústia. Como pode viver um ser assim? Em perpétua luta, parada nos estilhaços de guerras que nenhuma facção ganhou. Impulsiono de novo novas frentes de batalha para que algum lado vença. Mas nenhum lado vence. Nunca. E ambos saem apenas feridos. Entre eles estará decerto a verdade, entre eles o céu, o corpo livre e a mente a planar no lugar sem dor, imperturbável. Todas as minhas ficções reais, todas, aquela que quero ser sem medo de ser solitário peão na margem, solitária até ao fim e no entanto o céu no meu peito. Salvo apenas do mundo humano o desejo e a tentativa de amar, contigo que também és poeta e sabes os lúgubres fardos com que nos carregam os ombros. Não há maneira de os arrancar. Tal como não há maneira de esquecer aquilo que se apoderou na nossa própria carne e faz parte de nós. 

A despeito das colisões, penso que há ideias fixas em mim mas quando sonho o instinto ainda prevalece – sorrio ao ver crianças nos meus braços. Temo estar errada mas como podia eu gerar um prolongamento de mim no mundo, de sangue e carne e alma? Porque há dores que a maioria dos mortais desconhece, dores imateriais. E esse ser herdaria de mim essa amarga herança. Corajosos ignorantes mortais - nunca teria coragem porque não possuo essa ignorância. Esse amor tende subtilmente para uma vontade egoísta de se perpetuarem narcísicamente através de outro ser. Nunca seria capaz de tamanha tarefa – condenar à morte mais uma inocência.



MF




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