domingo, 16 de agosto de 2015



[ESCRITA AUTOMÁTICA]

16 de Agosto




As vagas runas de um mistério qualquer incendeiam as áleas de frutos verdes, desmascarando os gestos dos fúnebres preceitos a que se remeteram. Os tecidos lúcidos assumem marés cristalinas, pratas semicerradas de um mundo de manhãs. Despi o caule e teci os adornos com que cravei ao peito as tentativas de ser mais. Empunhámos espadas sem sangue, e perdemos o rasto  do mundo, na flagrante viajem palmilhada a choro, para nos semeármos em virgens terras de mil sóis. Eles não são ninguém, só nós amor, só nós. Quis tocar-te e ir embora, num embora efémero ou para sempre? Acho que podia ter-te em mim, na carne que se entranha no infinito, na saliva que canta mil gritos, e na tua pele também ficar. Adormecer a dor e não ser mais de mim tão sendo. 

*

Ser, como o universo chora! Ser, porque os outros também conseguem Ser, (às vezes), porque não eu? Eu, que me enlevo, subo e bebo em alturas abstractas e brindo com poetas. - O mundo é nosso, digo-lhes, porque nós transmutamos tudo isto, damos-lhes tudo isto, arcabouços de cristais, telas onde sonham os outros e ganham voz.


*

Praias discretas no discreto recluso do meu coração. Mas ó Deus que não me sei ser, comigo e com alguém, que não sei esperar que te desdobres claro para mim, porque não suporto estar no escuro. Porque te calas? Porque empurras para mim a decisão de te deixar? Porque eu ficaria se te mostrasses. Sabias que o mar nunca soube ser mar? Então que medo é esse?



MF

pb




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