terça-feira, 10 de novembro de 2015
13h18
a desenvoltura das asas, as nossas
ainda que às vezes, tantas vezes,
emudecidas, encharcadas na lenta e torpe melancolia
que perpassa os dias
infeccionadas asas semi-encravadas na carne
ante o possível interregno das planuras vastas
e da inevitável pantomina do Tempo
as asas indistintas já habituadas a não habitar o leve ar
e por isso receosas,
sim, lá em cima é diferente,
somos deuses amnésicos de tudo menos de nós,
da solidão aérea de nós,
ébrios num puro contexto rarefeito
sim, lá em cima é diferente,
é cá em baixo que o cronómetro é cru
e cego para a poesia e quando voltamos
sofremos a total compressão que despede das veias o sangue
um sangue que era riso e pássaro destemido,
ele pulsava tanto de não ter gravidade, de ser asa
é breve a queda que voou e desceu porque somos filhos da terra
acumula-se mais morte ao corpo da nossa existência
mas ainda assim
a desenvoltura das asas, as nossas,
vejam, a desenvoltura das asas, as nossas
que despontam em graça
(quase choro de me lembrar) de baldios, hortos mal arados
e brilham por um dia e para sempre.
recolhendo-se depois da eternidade,
pois é demasiado conter a eternidade, constantemente.
MF
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