terça-feira, 10 de novembro de 2015






[Pigmalião]

mas sou eu afinal, a sem altura, porque vos avalio a todos
sendo mais ninguém agora que toda a gente,
porque vos avalio a todos (e sou tão pequena para o Amor)
com réguas e esquadros e biometrias e psicometrias,
e estudos de potenciais, e desenhos de esboços de esculturas finais
como se não fossem humanos.
como se eu fosse deus.

e deixei-vos, mas segui-vos na ânsia de vos ver
nascer à distância,
eu deixei-te, comprimindo o amor até aos confins mal cerrados que despertam na insónia (justamente)
porque era premente ver-te
nascer à distância,
nascer do teu próprio ventre,
nascer pelos teus próprios pés,
para seres tu,
o candidato recto, espalmado perfeitamente
nos versos que escrevi para fazer algo com os dias
e no final, amar-te à distância ubiquamente
amar-te sem alturas, amar-te essencialmente sem razão
sem esquadros, sem réguas, sem complacência,
amar-te finalmente, substancialmente,
como o Amor foi feito para ser - benigno acidente fenomenológico,
bela dança sem aluno ou professor, duo nivelado e espraiado sob o imemorial justo esquecimento.

perdão - não, não tenho talvez em mim esse grandioso dom,
somente sei a abnegação poliforme sob álibis de te querer ver nascer à distância
essa abnegação que te livrou de mim - é o mais perto que sei do Amor.


MF





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