[ESCRITA Semi-AUTOMÁTICA]
13 de Dezembro
(2h18)
Uma imagem por detrás do cérebro e um fluxo de palavras inconscientes sem lei
ou pudor. As trevas deslindadas para mim e para ninguém. Que me leia deus, que
me leia o Tempo e quem ficou para depois. Não posso entender-me, nem ao meu
amor, nem ao poço que imploro finito mas não finda porque ocultam-se marés
prontas por detrás dos dias, que deslizam e submergem a alma por um
desequilíbrio de lua. Fico sem ar por dias e olho para trás, para todas as
vezes que pensei que tinha para sempre atraído o céu para o meu sangue, porque
dancei para deus, porque dançámos para deus, na nossa bela e atónita insignificância.E mesmo na solidão - achei que dancei para deus, nas ritmadas canções de dentro ao final de um dia. Mas
nunca o céu permanente, não. Esse deus queria ver-me dançar para sempre. Eu
sei, o seu egoísmo quase benigno, eu sei, esse de nos querer ver dançar para sempre
a partir do centro resoluto, resistente, do nosso mais cru desamparo. São (somos)
árvores a estremecer ao vento mas a estenderem os ramos para o Sol. E então,
nunca mais digo que é para sempre. Porque o universo vive disto, é alimentado
pela supersónica chuva de gestos movidos contra a inércia, e de altares
erguidos por nós mortais às coisas que foram, que materialmente decaem e se
dissolvem no finito, na inevitável ordem das coisas, que tornamos outra coisa,
que superamos, que surpreendemos com nossos quadros e versos formados bem no
centro da Dor e do Amor.
·
(1h42)
E não importa o Futuro, só
importa- o encontro com a reposta a
cada instante. Mas se te projetas para além
e te encontras vazia agora, não
deixes escapar a Idéia da próxima vez que ela se desnudar, capta-lhe a
superfície, as extremidades sem forma, escreve as pontes que te levam de novo
ao seu sentir e volta com as palavras - para não te esqueceres. (Como pudeste
esquecer? - Que somos divinos e assim todas as coisas.) Criança, procuras o que
já achaste e esqueceste o conteúdo, mas sobrevive-te a forma, a indistinta
possibilidade, o sussurro certo e mudo de algo que nos segura a todos e nos
permitirá ser.
·
(2h01)
Não saber porque sou, (eles dizem - “Tinhas de ser alguém", como se isso fosse resposta.)
Não saber estar aqui sem saber,
gastar-me de tanto querer saber…
Não saber estar aqui sem saber,
gastar-me de tanto querer saber…
Amo o vulto voltado para o Silêncio e a centelha
perdida no plácido mar. Essa vastidão semi-onírica e sem tempo, como que no Princípio do Fim do Mundo. Mas também
me tem o ruído, o tráfego, a arte, a loucura e amo - fitar o meu próprio caos, e
amo não saber quem escreve nem quem me ocupa, e amo provar o desejo nas
texturas e olhares humanos, e amo a torrente, a insónia, o sonho, a morte, todo
o acumular de dúvidas que nos catapultam para explorações siderais. Que eu
morra aqui - se às vezes não quero Silêncio nenhum, nem tampouco compreender
que silêncio é esse nem que versos são estes que escrevi. Apenas lançar-me,
apenas não saber, apenas a terra e o céu estendidos sobre a tábua da minha
própria criação, apenas um tempo inteiro, um cheio ar e arrebatamento longínquo
e eterno, apenas a loucura sob as rédeas do amor e uma melancolia quase mãe, e
amar, e amar…
MF
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