segunda-feira, 14 de dezembro de 2015







[ESCRITA Semi-AUTOMÁTICA]
13 de Dezembro

(2h18)

Uma imagem por detrás do cérebro e um fluxo de palavras inconscientes sem lei ou pudor. As trevas deslindadas para mim e para ninguém. Que me leia deus, que me leia o Tempo e quem ficou para depois. Não posso entender-me, nem ao meu amor, nem ao poço que imploro finito mas não finda porque ocultam-se marés prontas por detrás dos dias, que deslizam e submergem a alma por um desequilíbrio de lua. Fico sem ar por dias e olho para trás, para todas as vezes que pensei que tinha para sempre atraído o céu para o meu sangue, porque dancei para deus, porque dançámos para deus, na nossa bela e atónita insignificância.E mesmo na solidão - achei que dancei para deus, nas ritmadas canções de dentro ao final de um dia. Mas nunca o céu permanente, não. Esse deus queria ver-me dançar para sempre. Eu sei, o seu egoísmo quase benigno, eu sei, esse de nos querer ver dançar para sempre a partir do centro resoluto, resistente, do nosso mais cru desamparo. São (somos) árvores a estremecer ao vento mas a estenderem os ramos para o Sol. E então, nunca mais digo que é para sempre. Porque o universo vive disto, é alimentado pela supersónica chuva de gestos movidos contra a inércia, e de altares erguidos por nós mortais às coisas que foram, que materialmente decaem e se dissolvem no finito, na inevitável ordem das coisas, que tornamos outra coisa, que superamos, que surpreendemos com nossos quadros e versos formados bem no centro da Dor e do Amor.

·         (1h42)
E não importa o Futuro, só importa- o encontro com a reposta a cada instante. Mas se te projetas para além e te encontras vazia agora, não deixes escapar a Idéia da próxima vez que ela se desnudar, capta-lhe a superfície, as extremidades sem forma, escreve as pontes que te levam de novo ao seu sentir e volta com as palavras - para não te esqueceres. (Como pudeste esquecer? - Que somos divinos e assim todas as coisas.) Criança, procuras o que já achaste e esqueceste o conteúdo, mas sobrevive-te a forma, a indistinta possibilidade, o sussurro certo e mudo de algo que nos segura a todos e nos permitirá ser.

·         (2h01)
Não saber porque sou, (eles dizem - “Tinhas de ser alguém", como se isso fosse resposta.) 
Não saber estar aqui sem saber
gastar-me de tanto querer saber

 Amo o vulto voltado para o Silêncio e a centelha perdida no plácido mar. Essa vastidão semi-onírica e sem tempo, como que no Princípio do Fim do Mundo. Mas também me tem o ruído, o tráfego, a arte, a loucura e amo - fitar o meu próprio caos, e amo não saber quem escreve nem quem me ocupa, e amo provar o desejo nas texturas e olhares humanos, e amo a torrente, a insónia, o sonho, a morte, todo o acumular de dúvidas que nos catapultam para explorações siderais. Que eu morra aqui - se às vezes não quero Silêncio nenhum, nem tampouco compreender que silêncio é esse nem que versos são estes que escrevi. Apenas lançar-me, apenas não saber, apenas a terra e o céu estendidos sobre a tábua da minha própria criação, apenas um tempo inteiro, um cheio ar e arrebatamento longínquo e eterno, apenas a loucura sob as rédeas do amor e uma melancolia quase mãe, e amar, e amar…



MF



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