quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016




03/04 Fevereiro

"Vamos ver o que acontece depois." - Foi um dia bom, apesar da latente, agora manifesta, Melancolia.

Este lento, devagar sangue, devagar, ao som de um piano. A melancolia das estrelas, do céu nocturno, a Beleza sim, mas a melancolia como fundo que recebe a percepção. Lentidão, semblante cansado. Inexpressão. E sou ainda humana. Mais que humana. Nesta lentidão e ausência sanguínea. Que foi feito do fogo, da vitalidade, hoje ainda corro, mas já não corro sem pensar que tenho de correr. Eu subi àquele telhado, e estava ao lado do meu companheiro de alma que me disse para subir porque lá em cima a vista era esplendorosa. E eu subi, a medo, mas consegui subir. E estava ainda só, falando com ele acerca do Amor. As luzes da cidade. O coração acelerado pela vertigem. A gravidade é para baixo, não para a frente, porque tens medo de cair? não há forma de poderes cair daqui, disse eu a mim mesma. Podia estar lá a noite inteira. Mesmo sentindo a melancolia dentro de mim. Porque me fecho tanto? Porque ainda me és tanto? Porque resisto? Porque persisto em resistir? Porque estou presa? Porquê toda esta tensão? Onde está afinal a libertação? Perco a fé se ela não está neste céu estrelado, ou numa meditação profunda. Vem libertar-me pensei eu, vem ter comigo. Libertar-me o corpo para destrancar a alma. Tenho pesos atrás dos olhos. Choro tanto por dentro em dias de sol e nessas noites estreladas, porque tudo me trouxe até aqui, até ali, até aquele plano especifico, numa varanda especifica, de uma casa especifica, para fitar aquele céu e descobrir que estou ainda sozinha perante tão grande Beleza, e ao lado de um maravilhoso amigo que irradia luz.
Toda esta separação entre mim e o núcleo das coisas que apenas posso vagamente entrever. Eu quero, eu juro que quero tanto, e eu luto, contra correntes, como se a costa estivesse apenas depois de uma grande luta e não na direcção oposta - do fluir. Não sei quem me virou a cabeça para tamanhos empreendimentos, que sobrecarregam excessivamente os membros, o corpo, e aquilo a que chamamos de alma. Mas eu vou, eu saio daqui. Eu tenho três minutos para apanhar o autocarro e no ano passado teria desistido. " Não é nada, é o mesmo ficar em casa", mas eu corri desde minha casa e cheguei primeiro que ele. Perdê-lo custar-me-ia apenas uma corrida desnecessária, voltaria para casa, mas teria tentado -  foi o que eu pensei, quando decidi correr. 





MF




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