Não te chega saber
que te deixaste, vislumbres vários do teu
centro,
em versos polidos,
e indistintamente toda nos versos brutos,
na violência do ímpeto,
na violência do ímpeto,
exorcismos escritos na inquietação da insónia
Não te chega saber
que já disseste quase tudo
porque ainda te fervem afinal milhões de palavras dentro
e vives, e choras, e colapsas, por detrás de
um rosto imperturbável
porque queres que te vejam,
queres que te digam o que já sabes e mais
ainda
- que não estás só,
E há uma infância simultânea à desumana
lucidez….
*
*
O coração fez-se cérebro, queimo-me às
vezes
de tanta lucidez,
e ao mesmo tempo anuncia-se uma vaga voz
que me diz
que o que vejo é perturbação da visão,
descalibrada
irrevogavelmente limitada, fechada,
viciada
E esta escrita é o oficio que soberbamente
me acho herdeira,
ir ao mundo às vezes, e voltar e gravar
porque há quem asfixie sem poder dizer
E esta solidão é o destino certeiro que
tento afogar
sinto tanto que não me aguento no amor
e apago-te a carne e faço-te
impossivelmente deus
conservo e alimento e exponencio imagens,
pinto quadros com palavras
é tão bizarro como as coisas nos morrem na
terra
como agora - quase que me morres e nem te
vi o rosto
só ouvi a tua voz
(morre-nos tudo quando está perto)
a tensão acumulada quebra quando te ouço
humano
és só humano, sou só humana, e isto às
vezes é só isto
e fazemos epopeias em torno de um só beijo
e assombramo-nos, e matamo-nos, e sobrevivemo-nos
e sabemos das cinzas, e dos espaços
entre-primaveras
o crescimento e o esfriar (inevitável?) dos
sentidos
e dizemos adeus um ao outro porque nos
queremos eternos.
MF
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