Beberam do sol
E tomaram raízes profundas às portas
da descrença
Bebemos do sol
E ficámos lá para sempre
Sim, estas visões,
Beberam do sol
E infiltraram na terra acre raízes
Inseguras, raízes, da matéria e
persistência do sonho
Dissolvem-se e arrepiam-me de novo
Quando o sol daqui me lembra do outro
(Oh... propagar-se a luz desde ontem até
aqui)
É um ínfimo salto tenebroso, a lucidez
agora
É a falsa transparência de um véu que me separa
De um simultâneo irrevogável abismo
Tempo? Não é o Tempo
É o próprio sangue
Que se passou com o sangue?
(que se passou ali, que não se passa agora aqui?)
As farpas, as farpas no cérebro
(que se passou ali, que não se passa agora aqui?)
As farpas, as farpas no cérebro
O barrar do desimpedido caminho até ao coração,
As visões que não foram mais que visões
Sangue, abismo, sangue
(As visões de sol, assombram-me.)
E eu nasci para poder morrer, eu sei
“A brisa, é desta vez que vivemos”
(Para podermos morrer?)
É tão quase que vivemos, sempre tão quase
(podíamos realmente viver?)
Como se puderam esquecer da permanência
Dentro da impermanência?
Todo o sentido tangente
A um momento
Lembraste? De como não sabia ser criança
Nem humana, nem mulher
Apenas dentro, era tudo isso condensado
noutra coisa
Que me fazia chorar
Até que fui criança e humana e mulher à
luz do mundo,
dos bastidores velados e acesos do
mundo
É solidão.
Porque ninguém mais viu além de nós
Exteriorização do vasto, nunca nos vemos
mas sabemos
quando fomos
É solidão.
Porque ninguém mais viu além de nós
A suspensão
A suspensão
Estávamos tanto, cruamente, aqui
Lembraste? A cidade descoberta, a cidade
cheia de rostos
Amigos e amantes, e cruzes, e tochas
E risos, e luzes, e som, e caos, e ébria
vida
Fiz algo belo depois para te mostrar
aquilo que senti
( e nunca sabem o que se fez na solidão)
Como podem vocês submergir o autêntico,
finito, louco erro
Paixão, amor, às vezes nada mas
supersónica pulsação
(e não faz mal, não faz mal…)
A minha memória tem o tacto hipersensível
da voragem
E a dimensão circular de um mar
E chamo-vos a todos, porque estão todos
ali,
Naquele lugar,
Circunscrito
Humano
Sinestésico
Sem idade,
Sem idade,
Foi. Para sempre.
(Hoje tateio sede, tateio saudade, tateio
a vida que fugiu e ainda me tem
Adormecida.)
MF
A ouvir, Ex confusion - Be still
https://www.youtube.com/watch?v=8ZZa10s5SSw
Sem comentários:
Enviar um comentário