sábado, 21 de maio de 2016






hei-de purificar-me noutro fogo que não o fogo seiva e sangue
e a alma assim liberta há-de declamar pela terra
o sem palavras da leveza
pura e larga, contida e parada em perfeito movimento.

*

[escrita automática]

concluímos no mar e no horizonte as viagens carregadas às costas. o limbo primordial foi-nos descoberto aquando o medo. e as superfícies húmidas e estanques segregaram o tempo para nos dizer sobre o silêncio que nos move e grita quase lato. orava para o céu como se chorasse e nada havia para ouvir. além do peso do corpo esmagado contra a cama e as paredes caiadas de sombra. ouviste? cada romper de ar sobre o teu nome. cada pronunciação calada de ti. eu estava sozinha mergulhada em figuras de outros tempos e de coisas sem quadros de referência. em quartos caminhava e sem relógios quebrava contra um canto almejando talvez, só e apenas, o meu próprio nome fora da minha cabeça. e o piar de pássaros desconfigurado e trazido até a mim, contra o meu peito a sede e a esperança de outros dias. há um centro sem nexo , o qual orbito , e os astros giram ao redor do meu sangue tecendo trajectos de sonho e costas nuas e macias, baías destino de investidas milenares. a morte seria melhor que não chegar. e então caminhamos. e pelo caminho pele morta e arcas e arcas de saudade, saudade do verde, saudade de outra coisa, saudade transladada, futurista, ou de um passado mais que remoto, anterior à existência.

finalizaremos os papiros aquando a chegada, e saberemos o amanhã, saberemos onde cair e onde erguer (de novo) o mar e o coração.



*


lembrei-me de escrever relógios de água e uma ideia de fluidez ininterrupta. 
um perfeito movimento sem erro, sem pensamento
sem tempo, enfim
um olhar perfeitamente parado e simultaneamente imerso - em tudo.

e no próprio instante de mármore, a noção inteira do fragmento que sou
e sorrir de ser inteiro.

*

imagina apenas e só um dia aberto e perene
unicamente perene numa memória que caduca
e retém com cada célula as imagens do contorno e peso do vento
e a substância densa (e gloriosa) do que não sabemos.


MF








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